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dezembro 31, 2007

"Duas mãos e o Sentimento do Mundo"

19- “Duas Mãos e o Sentimento do Mundo”

Meditou – quatro: número do equilíbrio. Entrementes, drummoniano, ficou em pé.

dezembro 06, 2007

"Processador Central" - Conto breve-Ficção científica(inédito)

“Processador Central”

Por Marco Antônio de Araújo Bueno

Fui chamada às pressas ao pequeno apartamento de Liza. Era madrugada alta, tempo chuvoso. Mas, faminta apenas, ocupava-me em juntar condimentos leves à mistura das refeições do dia e escutava Ginastera, a “Variação canônica para oboé e fagote”; relíquia recuperada pelo meu ócio resignado desses últimos anos. Os 2:31 minutos que levava à repetição ad nauseum, repetição em volume reduzido nem tanto - enlevando-me e velando o misterioso sono de minha vizinhança zumbi. Quando em vez, fumava pelas frestas de um basculante; a fumaça conspiratória denunciada pela lúgubre luminância da rua fantasma. Pois bem, Liza, tivera um daqueles pesadelos reais.
Registrou o sonho, Liza? Não. Mas contou-me o suficiente às minhas anotações e, tendo antes ligado para mãe e, esta, insistido na idéia de recorrer a mim para acompanhar Liza ao centro, parecia mais determinada a agir que propriamente angustiada.
Interrompi o processamento dos meus resíduos culinários, insisti para que ela recolhesse do ralo do esquecimento, do aquém-linguagem, os resíduos de seu pesadelo e, com uma gravidade emputecida na voz, tentei dissuadi-la a se embrenhar pelo centro, como zumbi, na ilusão de mitigar suas intimidades angustiadas naquela maquinaria suspeita do “CPP” – nome obscuro para uma autarquia que se pretendia como um organismo público de processamento de pesadelos. Um contra senso instituído, em face da alta incidência de distúrbios do sono – pesadelos, aferida pelo Ministério do Trabalho e Lazer, desde o início de 2036.
Liza, sejamos razoáveis, passar por sessões relâmpago de dramatização do óbvio – que são ou teus fantasmas mesmo, ora! Filas, senhas e mais filas de pessoas apavoradas que não trocam palavra com medo de perder a vaga, depois...a Máquina! Mas mamãe conhece o sobrinho do homem da estatal que sabe de um psiquiatra gnomotivista-experimental (...). No cinzento daquela manhã, incapaz ou sem alma suficiente para dissuadir Liza de farfalhar sua singularidade pelos receptores daquela incubadora caleidoscópica., de espargir seus fragmentos oníricos pelos corredores de uma repartição pública cartorial, setorizada...kafkiana, minha recusa foi lapidar. Preciso passar pela “Retro-sensibilização”, retorquiu minha amiga, convicta de que já estivera impregnada por pesadelos classe “D” por mais de duas vezes naquele quadrimestre; risco de demissão na certa! Classe “D”, ruminei? É! “D”, de derrelição?! Ela recordou-se do texto de Hilda Hilst, mas não adiantou. Pairava sob síndrome de abstinência de substância específica: sentido.
Entrei pela manhã relendo fragmentos de alguns clássicos. Entre eles –Gilles Deleuze sobre coisas como a “máquina desejante”. Nas ruas, Liza, atarantada, na pressa, agonizava atropelada. Seu fantasma, para redimir minha recusa, lembrou-me um verso de “Iracema”, um clássico também, de Adoniran Barbosa: (...) "travessou contramão"! E eu? Ah,“eu sempre dizia”, deveras. Era a minha questão central. Paga ainda “meus alfinetes”, hoje.

novembro 29, 2007

"Infanticídio" - Microconto 18 (Dez palavras)

18. “Infanticídio”

...ração matinal; foi-se. Golpe-1 da foice...imensidão canavial do dia.

novembro 27, 2007

"Fragmento Parnasiano Pop" - Microconto 17(Inédito/para concurso)



Microconto disponível via solitação por e-mail, segundo alguns critérios de confiabilidade: araujobuenopsi@gmail.com. É condição mantê-lo rigorosamente inédito por quaisquer formatos de mídia. Estará no www.minguante.com em 2008.

novembro 23, 2007

"Uma dor; do nada?"- Microconto 16

16. “Uma dor; do nada?”

Face àquela pontada – sua face, estagnada. Trivialidade – uma ponta vaticinada...

novembro 22, 2007

Recuperado o cartoom do Miran -Mote do soneto "testemunhado" pela Oficina de Nelson de Oliveira/06



Pela data ( 02/2007)ou busca no blog ("Aniversário de um poema de oficina...")chega-se às circunstâncias que envolveram a construção de um "soneto" ("Aquele cuja fome espera")que se abriu a tantas e tão díspares interpretações, quando premiado em concurso, e, capa de alguns sites, quase já aniversariando (é de 2006!), implodiu suas potencialidades de polissemia. Caso curioso do que Umberto Eco chamaria "obra aberta". Ou vicissitudes de hermenêuticas literárias extemporâneas. Ou essas alquimias literárias, etc., etc., não?

novembro 20, 2007

"Nós na Cama" - Crônica publicada no Garganta da Serpente

Está no "Garganta"...
Tinha pedido para a Agostina publicar essa crônica (escrita para a revista "Showroom",em minha coluna "COTIDIANO", da VW e voltada ao ramo automotivo- o que explica tratá-lo por "carro leitor") que a publicasse junto ao microconto "Nós na Rede". É que se trata, além do contraste e da diferença de gêneros literários, também de "nós" diferentes. Vide índice.

novembro 14, 2007

"Expedientes Maternos-I": microconto 15

15. “Expedientes Maternos I”

Temendo muito que os filhos caíssem, acolchoava seus porta retratos.

novembro 05, 2007

Minguante.com 8 já na rede. Há novidades.

Vale a pena acompanhar as novidades teóricas e produções recentes de micronarrativa no site internacional (com mais de uma centena de colaboradores):

www.minguante.com

outubro 30, 2007

Minha estréia no www.cronopios.com.br_30/Out/07

Navalha na Tarde



O psicanalista e escritor Marco Antônio de Araújo Bueno estréia no Cronópios. Vale conferir.

outubro 19, 2007

COMUNICADO ÀS EDITORAS

COMUNICADO ÀS EDITORAS

Vide meu cadastro no www.mesadoeditor.com.br (aberto a todos)onde se encontram
trinta e três textos de minha autoria (protegidos pela "Creative Commmons"- em Direitos autorais). Tais textos constam distribuídos por mais de uma dezena de gêneros, dos ficcionais (poesia, contos, microcontos, sonetos, acrósticos)ao acadêmico (ensaios, artigos, crítcas literárias, pareceres), passando pelas peças epistolares (cartas-ficcionais ou não), reflexões, et. Estarão dispostos nessa base de dados até Abril de 2008.
Meu e-mail principal: araujobuenopsi@gmail.com - Campinas-SP

"Gagueira Fundamental"

“Gagueira Fundamental”

Por Marco Antônio de Araújo Bueno

A expressão não é minha, pertence ao G. Deleuze, filósofo contemporâneo que bate duro contra os conformismos conceituais e fustiga as bizarrices desta nossa hipermodernidade tão tagarela, tão exuberante em respostas pra tudo e tão... lacunar. Lacunas abissais de sentido, no jeito de consumir e expressar idéias e afetos. Gagueira, aqui, não é coisa de fono nem de generalismos psicológicos. É atitude! Forma de resistência contra a fluência domesticada. E foi outro filósofo de prenome abreviado “G”, outro Gilles, o Lipovetsky, quem cunhou “hipermodernidade” bem a propósito de uma analogia com hipermercado...
Não é minha, mas me pertence por dois motivos. Primeiro, eu a adotei, e só não a tenho praticado pra fazer compra básica, ir ao banco ou abastecer o carro, coisas que não me tomam muito tempo. Segundo motivo: estou ficando gago, cada vez mais gago, e de propósito!
O pano de fundo da resistência proposta por G.Deleuze é a obra de arte, e ele vai fundo na postura de transgressão, que constitui a potência que a demarca, na linha direta de Nietzsche. Pega o “ponto G”, pra não perder nem o trocadilho nem a alusão a uma espécie de orgasmo do sentido, embutida em seus “agenciamentos” filosóficos. Para o que me interessa aqui, o contexto é a comunicação, e a postura (esqueçam “atitude”, palavrinha já reabsorvida e estéril) é a de emancipação. De quê? Do tédio, no mínimo. Ou, pra ficar mais elegante, da colonização dos meus atos de fala, por uma espécie de eloqüência pré-editada, essa que me obriga a dizer conforme. Tirante as saudações (Alô! Bom dia!, Belê?) e a burocracia dos formulários verbais, considero um delito grave preencher silêncios com a verborragia prescrita pela cartilha do papo-jacaré, contra a fobia do não ter o que dizer. Pois é prescrição mesmo, com poderes de regulamentação do ritmo, da velocidade, da adequação às circunstâncias e, pior...do que deixa de ser falado pelo fluxo da própria falação.
Falar pra manter-se incomunicável, já que, tamanha é a excessividade de tudo, que a própria ameaça de silêncio... conspira. A gente passa um rodo nos fragmentos de informação do dia, retira-lhes qualquer contexto, separa tudo em bloquinhos e gruda neles alguns adesivos ou ícones, como rótulos bem práticos. Agora é só esperar uma sinalização, uma ameaça de conversa e pronto, o “kit blábláblá” estará operante. Contemplamos pouco, refletimos menos ainda. E falamos pelos cotovelos. Incomunicabilidade - palavrão, pois sim, hiperpalavra pra palavra pouca.
Estamos vivendo rente ao fantasma dos fatos; os fatos perdendo sua carga de significação para as imagens e estas, pulverizando-se, substituindo-se umas às outras, viram borrões isolados. Para nos orientarmos, apontamos para borrões e emitimos ruídos. Quando decodificados, temos a ilusão do diálogo, da troca simbólica. Na verdade, permanecemos mudos.
Pois estou me desobrigando de responder a esse padrão de mutismo ruidoso. E apresento-lhes esse meu “des-falar”, sob a forma de uma gagueira subversiva. Como funciona?
Bem, de cara é necessário uma não aceitação fundamental: a de submeter o que há de singular em mim (dimensão estética) e de outrem (dimensão ética) ao idêntico. Não se trata apenas de “respeitar” a diferença, é preciso trazê-la à visibilidade escancarada, cutucá-la com a vara curta do silêncio, das pausas longas, da recusa ao tatibitate marmanjo habitual. Isto é gagueira.
Ao contrário do que se pensa, os vacilos verbais recheados de gíria e outras embreagens coloquiais (dos muito jovens, por exemplo), a titubeante falsa modéstia dos “operários-padrão” da linguagem dominante (das celebridades sob holofotes, por exemplo) e outros estereótipos da má fluência ensaiada (do pseudodiscurso acadêmico dos economistas, da pseudo-religiosidade dos vigaristas do ramo da fé, da indignada “moralidade” de políticos golpistas-o “exemplo”, por excelência...), nada disso é, aqui, o que chamo de gagueira. É tudo jogo de cena ou malvadeza retórica. Comparados às esquisitices de linguagem que brotam nas salas de bate-papo, estas lhes superam em riqueza pura, verdadeiros diamantes do tesouro da Língua, e ponto.
Só pra ilustrar a idéia dessa gagueira, imaginem o Pivô, o competente entrevistador da TV francesa (separando bem o Jô... do trigo), todo hiperbólico e loquaz entrevistando uma conhecida escritora. Ele esperneia palavras, pergunta o imperguntável, abusa do lugar-comum, vertiginosamente palavroso. Ela (incomum, singular, reflexiva) subverte o tempo televisivo, comete longas pausas, pensa longo e responde curto, reticente. Questiona-se vagarosa e docemente, repete finais de frases, incorpora e sustenta a fragilidade do dizer, silenciando a platéia. E Pivô? Pouco riso e muito siso.
Responder questionando-se a si próprio no outro, eis uma nobre estratégia de gagueira. Uma “nanoprofilaxia” contra os microtraumatismos de todo falar esvaziado. Gagueira.
Dizem que é coisa de analista. Concordam com isto? Faz mal bater um papo assim aflito com alguém? Aflita, Hilda Hilst confidenciou-me certa vez (se é que faz sentido juntar confidência com Hilda Hilst...) que um escritor não deveria dar entrevista: “(...) é muito difícil pra mim... falar, falar das coisas que não se esgotaram no escrito (...) falar de mim, que escreve...”.
Inventaram um guarda-chuva que avisa quando vai chover! E se não chover? Você o carrega fechado, claro, até ele avisar. Então você o abre até que pare de chover e depois o fecha quando a chuva parar, embora ele não avise que a chuva parou. “Será que vai chover?” Já dizia Herbert Viana - o compositor, e emendava: - “Eu acho que vai chover”.A música falava da mulher que “despistava” o tempo todo, diante de um cara carente de atenção. E a gente anda carente de inventividade. Gaguejar é resistir, deixar pistas de si pelos cotovelos e descobrir toda a carência sob guarda-chuvas que não avisam nada, e vivem esquecidos pelos cantos.

outubro 10, 2007

"Resistência Estética"_ Microconto 05 (republicação)

Resistência Estética"_Micro Conto 05

"Resistência Estética"
Por Marco Antônio de Araújo Bueno

"Vamos deslindar este drama?" Não, bradou ao analista-" Perecerá lindo".


{Parâmetro de dez palavras}

outubro 05, 2007

Microconto 14: "Desertor no Deserto"- Partes I e II_ Inspirado do filme"Paradise Now", de Hany Abu-Assad, 2005

14. “Desertor no Deserto” -PARTE I


Doze anos, palestino fronteiriço, dois de treino. Paramentou-se: explosivos, celular...


“Desertor no Deserto” – PARTE II

Ao toque, sacou dispositivo junto. Sucumbiu; deserto. Tel-Aviv/paraíso - Doze km!

setembro 27, 2007

Drops teóricos sobre a micronarrativa: J.M.Merino: "[MC] muy cercano al alforismo, a la poesia, pero COM MOVIMIENTO!"



Questionado por W.M. Sabogal ("El País.com)sobre como "descobrir o néctar" do microconto, J.Maria Merino responde: -" Si aciertas. Hay gente que piensa que en el
microrrelato [mais abrangente, penso, que "Microconto"]vale cualquier cosa (...)breve no quiere decir que sea un microrrelato.Tiene que tener sustancia, movimiento
por poquito que sea. Es una quintaesencia narrativa,capaz de moverse e cambiar desde el principio hasta el fin. Ofrece una munanza.

A esta "mudanza", esta experiência reveladora, pretendo adicionar a idéia de Epifania, tal como surge em Clarice Lispector e na escrita de James Joyce, este, a
quem J. Lacan dedica o Seminário XXVIII- "Sinthoma".A propósito da ilustração (que devo a Ju Ramasini -a idéia- e à polivalente equipe do www.postoqueposto.blogspot.com do Dani Serrano, blogueiro do jornalismo), alguém notou a figura icônica de Franz Kafka decalcada no início do muro. Suas histórias curtas, intensas e misteriosas constituem uma das vertentes do Microconto no ocidente. A outra, de extração hispanoamericana, remete desde a um Rubén Dario e Julio Torri até ao "Dinossauro" do guatemalteco Augusto Monterroso.

setembro 25, 2007

Microcontos 12 e 13 (Dez palavras)

12. “A Colhida”



Na morada derradeira jogou toalha. Noites assim, minguantes – perspectivas déjavu!


13. “Tempoespaço”


-“Por quê não vai pra p.q.p.?”- “Demora mó longe, mano!”

setembro 20, 2007

Drops teóricos sobre a micronarrativa

Los microrrelatos tienden a desaparecer si se los mira de frente: son demasiado tímidos y traslúcidos. Para escribirlos basta con tomar un poquito de caos y transformarlo en un miniuniverso. Como las pirañas, son pequeños y feroces. Aconsejo descartarlos si no muerden

Ana María Shúa

Vide comentário adicional a este post no wwwaraujobueno.blogspot.com (sem ponto depois do "w"). Nele, não há moderação a comentários postados.

setembro 13, 2007

"Nós na Rede"_ Microconto 11 (Dez palavras)

.: “Nós na Rede”


Antes dos “giga” éramos gigantes entre acervos, territórios.Reticularam-me;amesquinhado

julho 27, 2007

O tempo e o verso, agora- meus.

Trecho de “O Enigma da Poesia”, do livro ‘Esse Ofício do Verso”, de Jorge Luis Borges



Penso que a primeira leitura de um poema é a verdadeira, e depois disso que nos iludimos acreditando que a sensação, a impressão, se repete. Mas, como disse, pode ser mera fidelidade, mero truque da memória, mera confusão entre nossa paixão e a paixão que sentimos uma vez. Portanto, pode-se dizer que a poesia é uma experiência nova a cada vez. Cada vez que leio um poema, a experiência acaba ocorrendo. E isso é poesia. (...) Uma vez escrito, esse verso não me serve mais, porque, como já disse, esse verso me veio do Espírito Santo, do subconsciente, ou talvez de algum outro escritor. Muitas vezes descubro que estou apenas citando algo que li tempos atrás, e isto se torna uma redescoberta. Melhor seria, talvez, que os poetas fossem anônimos. (...) Para concluir, trago uma citação de Santo Agostinho que, a meu ver, vem bem a calhar. Disse ele; “O que é o tempo? Se não me perguntam o que é o tempo, eu sei. Se me perguntam o que é, então não sei”. Sinto o mesmo em relação à poesia.

julho 26, 2007

julho 25, 2007

"Crueza Sutil do Seqëstro"_Microconto 07_07/07/2007_Para ti

“Crueza sutil do seqüestro”



Tamanha precisão ao nomeá-lo...Hoje – servidão: preciso, aflito d’algum eco!

Por Marco Antônio de Araújo Bueno
Microconto 07 (parâmetro: 10 palavras)

julho 04, 2007

"Agenda"_ Oficina-Mote: Depressão, pressão...

“Agenda”


Depressão é a Quarta da semana
Espremida entre uma segunda Terça
E outra Quinta que profana
A sexta em que a precipita.

Vem de pressão em pressão, decaída.
E cai, despenca; rebenta balaio consumido.
Precipitação de um fora para o fundo
Liquefeito na evasão insana. Um Sancho
De Quixote prescindido.

E emenda vazios com vazio não cerzido.
E no frio, respinga ainda suor na agenda,
Comprimindo risco, cuspe e fato
Num garrancho esquartejado.
Compreensão? Coisas da vida? Não!
Depressão é a letra tremida.

junho 23, 2007

"Odisseu" _ Mote: Clichê no cinema

Odisseu

Por Marco Antônio de Araújo Bueno

Ele estava imbuído de um estilo Chacal.
(Confeitos de cânhamo embebidos em mate);
Vestiu rigoroso traje anti-suspeição e o retocou.

Ganhou a rua, solene, dobrou a echarpe; café!
Acenou ao táxi que não parou, seguiu a pé.
Economia de atos, beirava o trivial, rito e rigor.

Transeuntes pelo museu, ele em transe, trivial.
Pés e mãos gelados em pleno local calafetado.

O cânhamo dilatou a escultura do Canhão. Acenou:
"Leve a peça até a moto, lado a lado, comigo, espeto-lhe!"

Na saída, desarmado da caneta Picasso que nada espetou,
Só via o Canhão reposto ao pilar, soar de sirene e camburão.

Em cana, em fim, apenas uma beatitude e cabeça oca.
Suspeitou: há xixi no traje todo; irretocável. E sorriu.
Depois chorou, exausto. Pediu um mate, alguém gargalhou.

junho 21, 2007

"Variações do Desvario"_Micro Conto 04(10 palavras)

"Variações do Desvario"

Marco Antônio de Araújo Bueno


Naquela loucura de vida, enlouqueceu.Marido achou aquilo muito louco.

maio 29, 2007

Alguns dos sites que hospedam textos meus_vide comentários

Recanto das Letras

www.gargantadaserpente.com.br

www.cronopios.com.br

www.minguante.com/n_6/textos.asp?textos=marco_antonio_bueno

http://sonsdesonetos.blogspot.com

http://literar.org

www.escrita.com.br

http://www.jornalorebate.com.br/site/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=101&Itemid=223

maio 15, 2007

"Caso Isolado"_Micro conto 02

“Caso Isolado”

Por Marco Antônio de Araújo Bueno.


Quando arranjou uma moça, na cabeça, foi ter com ela e depois com o corpo dela. Ocuparam-se em mapear um mundo neles. Do impulso ao roteiro e, deste, à rotina até o dia em que perdeu a cabeça e ela o corpo. Uma fatalidade.

maio 02, 2007

"Acabamento"_Micro-conto(53 palavras)

"Acabamento"

Por Marco Antônio de Araújo Bueno

Despediu-se em definitivo; pedra em cima, tomou-se de rumo.Voltou apenas para dizer do relativo do gesto, da insuficiência da linguagem e que, sobre a lapidação da pedra, a propósito, mudara de provedor e etc.; ah, também que o etecétera
era provisório e que o contrário de "rumo" poderia ser "amor" mas era "omur" mesmo.

abril 17, 2007

"Reforma Acróstica": Soneto dos anos 70, formalmente antigo quanto a aspiração que se comemora neste 19 de Abril, dia da REforma Agrária...

“Reformacróstica”

Por Marco Antônio de Araújo Bueno


Rebenta o sol na terra adormecida
Enquanto ainda dormem seus senhores;
Fingindo-se de homem pela vida
Omite a dor num manto de labores.

Rasteja-se no campo qual ferida
(Mais há no campo a cana do que flores)
Até que chegue a hora da comida,
Aguada e fria em perda e sabores.

Graceja e canta, pois que a “vida é bela”,
Rogando aos céus apenas por saúde
Até que a morte o venha, enfim, colher...

Retoma a sua cruz num gesto rude,
Inerte, pois que desconhece ainda
A hora em que nem saberá comer.

março 06, 2007

"A Fila"_ Conto breve(500 palavras)INÉDITO_Para coluna "CO

“A Fila”

Por Marco Antônio de Araújo Bueno

Não lhe causou estranhamento algum quando, já na entrada daquele pátio, topou de cara com a tabuleta bem postada, solene, onde se lia: “A FILA”. Em caixa alta, sem serifas, preto sobre o branco e bem à altura da vista. A lucidez com que se impunha excluía e conclamava a presença de uma crase, isso sim, seria de se estranhar? Ao contrário, era quase uma condição, uma essência mesmo da placa, essa simultaneidade. A caminho, no entanto, lembrou-se ter lido “FUNERÁRIA” onde seria mais crível que, pelo recorte urbano do local, pela vizinhança típica, lá estivesse escrito “FUNILARIA”. Mas este petisco caprichoso, já o reservara ao analista, até por uma questão de comodidade, ou de resistência. Não era o caso desta placa. O máximo que ela permitia era conjecturar se teria faltado um ponto de exclamação ou, algo mais sutil – se, por decoro de se evitar um imperativo grosseiro, autoritário, suprimiram elegantemente um “RESPEITE A FILA!”. E era essa condição que impunha respeito.
Tudo isso lhe infundia uma espécie de esperança vaga, de crença em valores substantivos, de confiança pela confiança; acelerou a marcha e perfilou-se aos demais. Não eram muitos, os demais. Silhuetas discretas, deslocamento proporcional aos espaços sucessivamente desocupados pelo atendimento. Pessoas, como ele, ali, na fila. Dispunha de um dispositivo contra o enfado, conversa mole, mas, sobretudo, contra a timidez incorrigível. Era um livrinho em formato seis por cinco que cabia em qualquer canto de bolso, paginação confortável e à prova de olhares bisbilhoteiros. “Padre Antônio Vieira”, uma antologia...viria a calhar; apalpou e, pela espessura percebeu o engano; era um Hamlet cuja impressão, de tão nítida, dava para ler até nos vagões do metrô e, até por isso, ele o reservara para o crepúsculo.
Decepcionado, enfiou as mãos pelo bolso e resignou-se a sua corporeidade perfilada aos demais. Foi então que se instalou um certo caos no recato daquela espera ordenada. Um homem deixou a fila e, ajeitando pasta e capacete pelos braços aproximou-se, agachou-se e ergueu do chão um retângulo de plástico cinza.- “Esta senha é sua, não?” Sim, era dele, escapou do bolso onde guardava o William Shakespeare das horas crepusculares. – “Melhor ficar esperto pra quando a fila bifurcar”, asseverou, num tom de voz sinistro, em baixo profundo e olhando furtivamente para os lados e para cima, em direção ao começo da fila. – “Obrigado, mas que bifurcação é essa?” Olhou para o edifício à frente, era térreo, não havia razão para olhar para cima.
O caos se instalou por uma razão singela e contra cuja obviedade, a menor inobservância parecia implicar em afronta grave. Tinha alguma relação com as senhas e aceitar que a cor da senha determinasse a bifurcação parecia tão consensual aos demais, que apenas uma leve indagação sobre sua razão de ser, soava como um libelo. E tornava o perfilado um contraventor.
- “A minha, senhor, eu sei que é branca. Quando bifurcar lá na frente eu sei pra onde devo me dirigir. E a sua que eu vi que é cinza vai tomar outro destino. Fica mais atento que ninguém aqui é ingênuo nem palhaço!”.
- “Bom, já que” branco “não é cor, deve ter senha preta também...”.
- “Tem sim senhor, mas ninguém viu cair de bolso nenhum!”.
- “Deve ser porque não tem destino nenhum!”

fevereiro 14, 2007

Aniversário de um poema de oficina literária_Cartoom como mote e contra o tempo (20')


.POEMA DESTAQUE DA SEMANA – VENCEDOR Já saiu o vencedor do evento ‘Poema Destaque da Semana’, versão ‘NaturezaPoética’, para o período de 12 a 25.02.07. O poema vencedor foi: ‘Aquele Cuja Fome Espera’, de Marco Antônio de AraújoBueno. Venham conferir e oferecer suas congratulações ao autor. Para tanto, acessem osseguintes endereços:
Natureza Poética:http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=15283065&tid=2511438818051658914&na=4
Blog:http://gritosverticaisdanaturezapoetica.blogspot.com
Um abraço a todos!
Ass.:OS MODERADORES..


Moderadores: .PARABÉNS, MARCO ANTÔNIO... mais uma vez sua poesia saiu vencedora do evento 'POEMA DESTAQUE DA SEMANA', agora na versão ‘Natureza Poética’, para o período de 12 a 25.02.07.Venha conferir a postagem destacada de seu poema, ler comentários e receber as merecidas congratulações, acessando os seguintes endereços:Natureza Poética:http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=15283065&tid=2511438818051658914&na=4
Blog:http://gritosverticaisdanaturezapoetica.blogspot.com
Um abraço, Poeta!
Ass.:OS MODERADORES.
AQUELE CUJA FOME ESPERA
(Marco Antônio de Araújo Bueno).

Aquele cuja fome espera
A fome que estará saciada
No outro, enquanto este, quimera,
Padece de fome engaiolada...

E, se o que sacia a fome está, sempre
Apenas onde nós a pomos,
Pra que enraizar felina fome
Entre patas caninas e alpiste sem nome!?


E se, então, surgir a liberdade
Que desmoronasse a espera em cadeia
E desencadeasse uma fome dual?!


Libertos estariam, um para o outro,
E, ambos, para a saciedade
Ou para uma liberdade de esfomear-se da falta...



posted by Rita Costa & André L. Soares

{Vide comentário postado no wwwaraujobueno.blogspot.com para compreender as circunstâncias
que marcaram a construção do poema e o marcaram como emblemático de uma demarcação diante
da literatura}