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O GRITO NA ALMA DO SILÊNCIO_ensaio breve






O grito na alma do silêncio


Texto por: Marco Antônio de Araújo Bueno

Pesquisa: Grisele Morantt


A pedofilia é um fenômeno tanto universal quanto histórico.  Na Grécia antiga, por exemplo iniciavam-se os efebos, meninos, submetendo-os à penetração pelos seus preceptores, seus mestres.
Muito embora o Tabu do Incesto seja um fenômeno simultaneamente cultural e natural (observado em todas as culturas e interditado variamente nestas culturas), a pobreza material e as condições precárias das habitações instauram os abusos dentro das famílias nucleares (vide "Sexo e Temperamento" da antropóloga Margareth Mead). Nas classes A e B não é diferente, por razões mais sutis.
Aquele que abusa sabe, de alguma forma, poder contar com a cumplicidade silenciosa do abusado, face ao constrangimento de seu super-eu e ao temor, fantasioso ou real,  de ter contribuído ou facilitado fantasiosamente com as investidas do abusador; também pelo medo de ser castigado ou até mesmo rejeitado pelo adulto mais velho de voz social mais ativa.
Em consequência, o abusado recalca sua vergonha, fadada, com frequência, ao que Freud chamava Compulsão a Repetição. Vale dizer: o abusado reedita a cena do abuso para poder elabora-la ou torná-la "ego”- sintônica.
São comuns os sintomas:  anorexia/ bulimia (associada à figura paterna, via de regra), enurese noturna, fobias generalizadas e "timidez" ou introversão exagerados.
A superexposição visual a pornografia e à nudez associada ao contexto sexual favorecem a aceitação do abuso em situações de baixa autoestima. Uma criança "intui” à maneira dela, que há ‘algo de errado’(R. Laing) nas investidas/ aceitações de bolinação e, mais tarde na vida, tente a ressignificá-las como colorido emocional herdeiro do sentimento de culpa.
Crianças são, conforme escrevia Freud diante da rígida moral Vitoriana, seres sexualizados em sentido amplo ( as fases "oral, anal, uretral” etc. de seu desenvolvimento psicológico) mas, apenas quando transpõe o que herdou do complexo de Édipo, ou seja da relação triangular com os pais, conseguem atribuir significação aos afagos e carícias que caracterizam os abusos. E esse sutil ‘dar-se conta’ permanece recoberto por sentimentos de raiva, medo, nojo, até encontrarem uma escuta profissional que lhes ofereçam amparo e reconstrução simbólica pertinente.

A precocidade com que acedem a intimidades, visualidades e discursos é um traço da hipermodernidade, escreve Gilles Lepovitsky (As pulsões (equivalentes simbólicos dos instintos animais) percorrem um caminho natural no desenvolvimento da libido ou sexualidade infantil. Quando precipitadas ou aguçadas precocemente, porém, desencadeiam feridas profundas no aparelho psíquico ou na alma das pessoas que foram objeto de abusos.

E é dessa matriz erótica que se deriva as dores morais e os padrões de repetição que marcarão a vida adulta de maneira indelével.
Abaixo alguns depoimentos coletados nos comentários do filme “O silêncio de Melinda”