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julho 24, 2011

EXERCÍCIOS DE DECALQUE

FOTO - Ju Ramasini


LOBANTUNIENSES I Exercícios de decalque

Por Marco A. de Araújo Bueno

Tenho antônio no nome também

(o Lobo, agudo; o meu, – circunspecto)

Perdi um carro com selo distintivo belíssimo

(Wolfland)

Suponho aludir ao Território do lobo, e não tenho Antunes no nome, nem antagonismos muito ao contrário, então apraz-me esparramar meu texto como ele faz ao simbiotizar-se com os dele.

Aqui é para contar como brotou duma artéria viária preferencial que atravessei

em perfumado crepúsculo e tomei tremenda porrada lateral , uma moça

O carro era um Logus e calhou que eu não tivesse razão neste sinistro.

Veio a jejuna motorista Carolina e porrou a lateral do carro. Assustei-me, no prenuncio de uma sina revisitada

(é que a parva tomou o breque pelo acelerador)

Faz vinte e três anos, um ancião acompanhado da esposa velhinha cometeu o mesmo desatino de motricidade e porrou um Fiat 147 que eu guiava. Era um velhote turrão que errou igual à jejuna

(que se fazia acompanhar pelo filinho atado ao banco traseiro)

Cicatrizes, cacos de vidro purulência incrustados no rosto, pálpebras. Mais tarde, dada a lei da gravidade e minhas pesadas leituras fiz-me operar das pálpebras empapuçadas

(Pitose, o nome da intervenção cirúrgica que uma médica oriental cometeu)

Deu-se que minhas pálpebras não se fecham a contento seja para dormir seja para banhar-me

- Perdeste o automóvel ?

Sim, perda total e outras perdas de autonomia.

Mais tarde ainda logrei instalar-se em mim uma prótese.

(Acetábu-lo- assim literalizo a grafia do nome do osso cujo o fêmur dardejava)

No quadril: Titânio por fora e cerâmica na concavidade. Cerâmica na bolota do fêmur convexo; conjunto não-cimentado que hoje cuido pra que não quebre, que não me dê nuanças de perda total

(PT; salvação)

O primeiro Logus naufragou nos vales, Valinhos do Adoniran;

O segundo foi porrado na travessa José Lins do Rego.

Acudi a ambos!

A seguradora acudiu-me o carro.

E hoje lendo o quarto livro de crônicas do António Lobo deslizo-me, biônico, com meu andador e sonho com voltar a pedalar pelos vales e jogar futebol

(a evitar caminhos com o nome de grandes escritores)

Pois sim.

julho 19, 2011

PARODIANDO O MICROCONTO '69' DE MARCELINO FREIRE

FOTO - Por Ale Toresan (SESC-Campinas)

FOTO - ARQUIVO PESSOAL (Ju Ramasini)

51*

Para Marcelino Freire

-
-



{Mantendo os quatro caracteres que fazem do 69 o menor microconto nunca dantes lido}

* Em ambos, a ausência de diálogo entre os interlocutores, depois do travessão, é justificada: não se fala com a boca ocupada. Êta danado, o pernambucano que escreve "para se vingar'. E eu, que
assim parodio para me vingar da verve dele. É.

XHAMÃ SENTADO EM SUA CADEIRA BARCELONA



(Dedicado ao psicanalista e poeta Marco Antônio de Araújo Bueno)


O xamã sitia espaços sibilinos e descobre oníricas couraças.


Na textura das palavras

desvenda temores infantis.

No leque das frases,

libélulas de esperança.


Desafia lembranças perdidas em olhares despedaçados,

vasculha terrores noturnos,

farpas de ódio

e amores perdidos.


O psicanalista indaga e silencia.

Invade os pesadelos

e encontra princesas esquecidas.


Por fim, descobre os subterfúgios

e assinala trilhas desconhecidas

nas curvas da espessa linha do tempo

(subjetiva).


Sementes de lembranças crescem


entre as cinzas do esquecimento,

o xama

(sentado em sua cadeira Barcelona)

espera calmamente pelo milagre do renascimento.