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julho 02, 2013

AO LEITOR PÓS-HIPÓCRIRA

AO LEITOR PÓS-HIPÓCRITA

                                                    QUARTIER LACAN MADRUGADA

Por Marco Antônio de Araújo Bueno

Caso você vingue, vinda duma tronco
(doutra via qualquer que não a darwinista)
então terei passado – eu, que a alcanço em cheio
(nas suas próteses neurais, no seu exoesqueleto).
(Como terei sido a seus olhos holográficos?)
Alguém que fugiu da linguagem binária e se deu!
(Alguém provindo das profundas sinapses e glias.)
De que forma, mãos robóticas, apalparia meus gânglios?
Se ainda não a penso e farei rir toda a sua geração
(sem distinção de credo, cor d’olhos ou genoma)
é porque teremos sido seres entristecidos –
você, duma tronco, entretecida à base de divisão.
(Eu, ainda assujeitado, porém incompleto!)
E nós dois decompostos em nome duma soma.


[VERSÃO PARA PUBLICAÇÃO NA ANTOLOGIA 'HIPERCONEXÕES']15:23 30/06/2013

junho 29, 2013

POETA DO PC

                                             POETA DO PC




                                     
  Caricarura por - Francisco de Assis Ribeiro


Por Marco A. de Araújo Bueno



     Era menos sossegado nos tempos do Diz-que-diz, boteco mezo família, mezo boca-de-porco. Sentava (“O que importa é saber sentar!”, dizia o Tuca, compulsivo e exímio espiador de calcinhas), fazia meu pedido (às musas também, confesso) e sacava uma folha A4 que, dobrada em ¾, facilitava escrever meus versos desassossegados, sem ser patrulhado p’los olhares profundos. Falo de versos, que são linhas descontínuas e salteadas, que da pra ver de longe que você está escrevendo poesia; coisa metida à besta, ou bem arrogante ou meio suspeita, como dizia o teco, que também usava as mesinhas externas do bar pra compor os punk-rock dele.

     Só que grafar “Quebra tudo na porrada/ Bota pra foder/ A negada só precisa/ De porrada pra gemer!” é diferente de grafar, por exemplo, - “Era uma saudade líquida/ que escoava...” e tal. E aqui entrava a folha A4 – origami e blindagem – que me permitia escoar meu eu - lírico profundo esconditantemente, se é que me entendem, p’las dobraduras que obliteravam o olhar profundo alheio (o alheio vive dardejando olhares que eu chamo ‘deep-look’) quando a substância escrita não seja um cheque ou um cupom de supermercado. Pois bem, porém, comprei uma tranqueirinha dum PC portátil – um note (!) de segunda mão e, dia desses, escorreguei-me pro Diz-que com ele.

     Acharam que era muito PC prum único cidadão que, já tendo inclinações políticas bem à esquerda (daí o primeiro apelido de ‘Partido Comunista’), também se chamava Paulo Cezar - o segundo, e, se escoava saudade, era pela Paula Cláudia, assim chamada por ser gêmea de outra, uma delas, a Paula etc. Ele bem sabia a diferença entre as univitelinas, diferença sensível, - uns peitinhos que teimaram em desabrochar cedo demais, por volta dos doze, e que ela, na vã tentativa de escondê-los, vivia corrigindo postura, o que dava muito mais tesão ainda na clientela do Diz-que. Certa vez, não se agüentou: ‘Temos um probleminha em comum, eu com meu novo PC que expõe demais meus versos; você... com os cotovelos’. Cotovelos? ‘É, passa o tempo apoiando-os na mesa e os retraindo, retráteis; para não revelar sutilezas e pistas duma estética que berra’

     O ‘berro’ encostado na cabeça, a cabeça voltada pra Cláudia (um PM teimava em segurá-la pressionando justo os peitos dela”!) ele vociferava não ter sido o autor do hino d’Os Secundaristas Olhistas” à patrulha ostensiva naquela sexta à tarde. Mas levaram o PC dele e, neste, tava lá todo o gramicciano Paulo Cezar, vinte e três anos e ainda do ensino fundamental... (a Claudinha tinha quatorze!), quanta desproporção, quanta revelação! E o hino era dedicado assim: “Para PC, com furor!”... Eu não era eu neste momento, nem era o Paulo nem porra nenhuma, era o que teria incitado com versos reveladores toda uma galera a depredar o pavilhão da escola, estilhaçar vidraças e quebrar carteiras. Tudo pela inexistência de professores de Sociologia e História, diga-se, a propósito. Eu estava muito é puto com tamanha exposição, pois, no PC havia versos pequenoburqueses, como aquele da saudade etc. Não gosto de literatura panfletária e ponto final. Afinal, há os cotovelos retráteis da musa cujos peitinhos imberbes (ele já há muito não era imberbe...) que, a cada apoiada nas mesas do Diz-que desvelava um mundo para além da ideologia e para aquém do ato, de qualquer ato. O porquê? Ambos tímidos, viviam despistando seus rastros no mundo visível em nome de um pudor poético; político também, deveras...O fato é que, pois bem, - o pau quebrou, gente miúda se fodeu e um traíra apareceu, revelado. Um certo Antônio, trincado de tesão pela moça. Na hora em que me foi revelado isto, pensei: pesavam acusações recentes sobre o pensador italiano de esquerda, sobre cuja idéia de ‘intelectual orgânico’ tanto havia se debruçado. O cara seria chegado numas ninfetazinhas e tal. Lembrou-se das debruçadas da Claudinha sobre a mesa, para ler versos no PC dele e endurecer o pau dele, isso sim! Que fosse, as patrulhas todas endureceram duma só vez sobre ao torso retrátil do Paulo Cezar e seu consubstancial eu - lírico. É, e o caralho A4, Tuca e Teco concordavam.
   



maio 01, 2013




SONETO DO PÓS ATO

Por Marco A. de Araújo Bueno

Neste intrépido trepar e pitar
Mal me cabe em sutilezas ou vãos,
Desperdício daquilo que se vá
Refazer-me num depois de amanhã;

Desonroso este certame de mãos
Que mal sentem algum onde se pousar-
Se é que quero um desmanche deste afã;
Se é que ouso dormir pra me acordar.

Fantasias  que descongelam aqui
Mais adiante encavalam-se dispersas;
Mais adiante me afastam de você.

E se for-me este amálgama consigo,
Mal me alcanço em qualquer desfalecer
Que não seja torpor de reunir farsas




abril 25, 2013

Os CENTRAL PARK



http://t.co/jfaNxQS58y Toda cidade tem seu próprio Central Park. O Central Park do planeta,no entanto, sintetiza um patético e bélico tédio

fevereiro 27, 2013

VOCARE



Vocare



A bunda murcha,
A calça caída;
O cinza estampado
O tecido esgarçado
No despojamento vigia.
Um celular rolha
Pende do bolso
(Trinado eletroacústico).
Alguém chama:
“Onde você está?”
A questão é pertinente
Mas já não pertence a ninguém.