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abril 21, 2010

UM BASEADO EM ASSIS [DO SÉC.RETRASADO]


“Tempo Virtual, Mate Real”
Por Marco A. de Araújo Bueno




Logo que percebeu como tratavam aquele que o aguardava na recepção disparou a tomar providências. Trataram-no por Senhor e se isso não era um código de segurança, era sinal para acionar dispositivos adicionais de etiqueta, protocolos de natureza diplomática. O Senhor que o aguardava não abriria mão de suas prerrogativas, das armas e brasões que o precediam. Mesmo sabendo da farsa daquele cerimonial.


Apresentou-se cordialmente, sentaram-se. Notou que o Senhor evitava o confronto visual e mantinha certa rigidez nos gestos; que não se apartava de seu caixilho 9.0, atrelado ao pulso, por um cordão metálico incrustado de minúsculos ornamentos verdes. – “Relíquias do auspicioso clã, Senhor? bonita peça!” , gracejou para quebrar a formalidade. Mas o Senhor respondeu que não, que se tratava de material explosivo.


Configurava-se uma situação de risco, agora sim, mas não tinha como apartar-se do ilustre visitante para os expedientes cabíveis; um “com sua licença, volto num instante” soaria como um “vou chamar a segurança”. Enxadristas vibrariam com a perspicácia resoluta daquele mate real já anunciado. A saída exigia compostura e raciocínio antecipatório.Uma varredura seletiva em seu repertório de alternativas afins.


Havia, para ganhar tempo, um recurso muito eficiente quando se tratava de representantes de aristocracias e portadores de mutações genéticas que potencializavam a estima pessoal e a vaidade. –“Esses caixilhos 9.0, Senhor, um grande privilégio prevalecer-se de dispositivos tais que permitam inibir nossos sensores, esses, também de última geração, que detectam roteadores de tempo real. O valor dessa máquina!”.


Afastando as mãos como se contornasse o caixilho, expressão mais relaxada no rosto, Senhor mordeu a isca, não sem antes desferir uma ofensa de natureza institucional: - “Seus sensores têm a vulnerabilidade típica das instâncias censoras, aguçam nosso ímpeto de desafiar, de descobrir as falhas do sistema...” A expressão não era de riso; era um esgar malicioso de quem já conta com os louros. Vitória por mérito...


Cintilava nos olhos de ambos um indelével desejo de astúcia, de reconhecimento meritório de astúcia de um – o Senhor -, que demandava aplausos da platéia entusiasta que julgava ter no outro, e deste outro que exalava um devir de sobrevivência e instigava: -“Em nossas idades-Terra, Senhor, meninos é que somos nessas circunstâncias, ávidos por imaginar proezas dessas engenhocas, ardemos de contentes!”.


Senhor, abrindo o painel do caixilho, exultava: -“E já que explodiremos juntos, mal me contenho em excitar sua imaginação: imagina o recurso que usei para enganar seus sensores”.-“ Não alcanço!”. –“Uma singela máscara de interface na área do relógio.”, e abriu o código fonte, inclinando o corpo para o exato quadrante coberto por uma das câmeras de vigilância. O outro ergueu os braços, solerte; -“Desenvolvedor!”


Ao erguer os braços, porém, a câmera registrou o dedo indicador direito apontando para o alto e o esquerdo para o painel do caixilho que escancarava o hackerismo, agora, detectado e desfeito com recuso tão singelo quanto o concebido pelo desenvolvedor – uma intervenção no relógio do sistema e subsistemas coadjuvantes tornava virtual toda a sequência do tempo transcorrido desde a chegada do Senhor...


Quando, já no final daquela troca de amenidades tecnológicas, algo nefasto apontava para o imponderável da missão do Senhor, este, lacrando seu caixilho, retesou-se e proferiu, solene: -“ Hora do fim, colega!”-“Ora, ora, temos tempo, Senhor, uma câmera flagrou e desabilitou a contagem. Para todos os efeitos, não tivemos este encontro porque o Senhor não entrou aqui. Prefere seu chá com leite? Seu avatar gosta?”

[ILUSTRAÇÃO POR ALAN CARLINE, DO BLOGUE COLETIVO 'DE CHALEIRA"]

SAIU NO DE CHALEIRA - O BLOGUE COLETIVO

Escrevi esse conto para a Stalker, baseado no eixo narrativo de um outro, dos anos 60!Não dos anos sessenta do século passado, é claro;a concepção que norteia o Projeto Portal é plasmada na prospecção, no futuro.Refiro-me ao século retrasado!O título dele - "Segunda Vida" - alude a virtualidades como "Second Life", avatares, errepeges. Futuro. Nem Futuro do Pretérito; Futuro premonitório, no campo da narrativa, da fantasia ficcional. Esculpido a Machado. Machado de Assis.Avancei no tempo para alcançá-lo e cheguei a este, baseado em Assis, o brucho que se defuntava na ficção, e voltava pra contar. O que conto ficou, assim também, cravado em minha coluna Brevidades do www.e-chaleira.blogspot.com e provocou um enorme silêncio...








“Tempo Virtual, Mate Real”




Logo que percebeu como tratavam aquele que o aguardava na recepção disparou a tomar providências. Trataram-no por Senhor e se isso não era um código de segurança, era sinal para acionar dispositivos adicionais de etiqueta, protocolos de natureza diplomática. O Senhor que o aguardava não abriria mão de suas prerrogativas, das armas e brasões que o precediam. Mesmo sabendo da farsa daquele cerimonial.
Apresentou-se cordialmente, sentaram-se. Notou que o Senhor evitava o confronto visual e mantinha certa rigidez nos gestos; que não se apartava de seu caixilho 9.0, atrelado ao pulso, por um cordão metálico incrustado de minúsculos ornamentos verdes. – “Relíquias do auspicioso clã, Senhor? bonita peça!” , gracejou para quebrar a formalidade. Mas o Senhor respondeu que não, que se tratava de material explosivo.
Configurava-se uma situação de risco, agora sim, mas não tinha como apartar-se do ilustre visitante para os expedientes cabíveis; um “com sua licença, volto num instante” soaria como um “vou chamar a segurança”. Enxadristas vibrariam com a perspicácia resoluta daquele mate real já anunciado. A saída exigia compostura e raciocínio antecipatório.Uma varredura seletiva em seu repertório de alternativas afins.
Havia, para ganhar tempo, um recurso muito eficiente quando se tratava de representantes de aristocracias e portadores de mutações genéticas que potencializavam a estima pessoal e a vaidade. –“Esses caixilhos 9.0, Senhor, um grande privilégio prevalecer-se de dispositivos tais que permitam inibir nossos sensores, esses, também de última geração, que detectam roteadores de tempo real. O valor dessa máquina!”.
Afastando as mãos como se contornasse o caixilho, expressão mais relaxada no rosto, Senhor mordeu a isca, não sem antes desferir uma ofensa de natureza institucional: - “Seus sensores têm a vulnerabilidade típica das instâncias censoras, aguçam nosso ímpeto de desafiar, de descobrir as falhas do sistema...” A expressão não era de riso; era um esgar malicioso de quem já conta com os louros. Vitória por mérito...
Cintilava nos olhos de ambos um indelével desejo de astúcia, de reconhecimento meritório de astúcia de um – o Senhor -, que demandava aplausos da platéia entusiasta que julgava ter no outro, e deste outro que exalava um devir de sobrevivência e instigava: -“Em nossas idades-Terra, Senhor, meninos é que somos nessas circunstâncias, ávidos por imaginar proezas dessas engenhocas, ardemos de contentes!”.
Senhor, abrindo o painel do caixilho, exultava: -“E já que explodiremos juntos, mal me contenho em excitar sua imaginação: imagina o recurso que usei para enganar seus sensores”.-“ Não alcanço!”. –“Uma singela máscara de interface na área do relógio.”, e abriu o código fonte, inclinando o corpo para o exato quadrante coberto por uma das câmeras de vigilância. O outro ergueu os braços, solerte; -“Desenvolvedor!”
Ao erguer os braços, porém, a câmera registrou o dedo indicador direito apontando para o alto e o esquerdo para o painel do caixilho que escancarava o hackerismo, agora, detectado e desfeito com recuso tão singelo quanto o concebido pelo desenvolvedor – uma intervenção no relógio do sistema e subsistemas coadjuvantes tornava virtual toda a sequência do tempo transcorrido desde a chegada do Senhor...
Quando, já no final daquela troca de amenidades tecnológicas, algo nefasto apontava para o imponderável da missão do Senhor, este, lacrando seu caixilho, retesou-se e proferiu, solene: -“ Hora do fim, colega!”-“Ora, ora, temos tempo, Senhor, uma câmera flagrou e desabilitou a contagem. Para todos os efeitos, não tivemos este encontro porque o Senhor não entrou aqui. Prefere seu chá com leite? Seu avatar gosta?”

abril 01, 2010

LACAN, J.FORBES MINHA QUESTÂO SOBRE O 'REAL" NA SEGUNDA CLÍNICA

"Sábios nos encantam e estúpidos nos cansam. Os meios digitais apenas ampliaram o poder de ambos mas a escolha de quem ouvir ainda é nossa"(Jorge Forbes em "Jacques Lacan e a psicanálise do século XXI", transmitido ao vivo pela internet pela cpfl, com o Dr. Marco Antonio no ar)

http://www.cpflcultura.com.br/video/integra-jacques-lacan-e-psicanalise-do-seculo-xxi-jorge-forbes [Entre os 101 e os 107 minutos finais, reservados às perguntas ao conferencista]

Este post buscar colocar em relevo um ponto crucial na Segunda Clínica de Jacques Lacan onde, ao contrário do que afirmava antes sobre o Registro do Real (que 'não tem fissuras', seria inapreensível, exceto pela experiência do psicótico, 'foracluído' da órdem simbólica, coextensiva à linguagem), vem a confirmar que (...) 'Há furos no Real", em seu Seminário XXVII - "Sinthome".
Minha questão ao colega Jorge Forbes alude à idéia de Epifania (tal como é posta por Joyce, no sentido laico) e incorpa a argumentação de minha tese de doutorado "Brevidade e Epifania na Micronarrativa Contemporânea" (Unicamp/2008)