PROSÓDIAS

FACEBOOK

FESTINA LENTE PELO MUNDO

Map

BO ! (aramaico)

abril 15, 2008

"Em Suma, Idiota : Microconto 26; dez palavras

26. Em Suma, Idiota :

Tencionava pro-ferir: senta, fica, dá beijinho e não vai embora !

9 comentários:

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Você, não esta perdendo nem o cheiro das coisas.Heim!!!Vai ser um microconto apaixonado e, diante da correria que o mundo vive, certamente é uma frase de muita ação, sentimento. Mostra a brevidade na expressão cotidiana.Resumo : Um microconto p/ mim, é um pensamento com tudo que tem direito

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

No seu microconto, eu daria a sentença em resposta:

Suma! desapareça! queima o chão, pica a mula, abana o rabo e fica
de quatro!!


Marco, gostei do que seu micro provocou em mim,raiva mesmo, do gostosão
do pedaço e breve cornão!

Maria de Fátima Prado
16/Abriu/2008

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

As interpretaões a que se presta uma obra de arte...Note, Fátima:
1. A voz narrativa é presumivelmente feminina ("dá beijinho" a conotaria; era a intenção, somada à passividade de quem fica enquanto o outro parte; antropologicamente "nômade";
2. Trata-se de tematizar uma situação de comunicação paradoxal, ou seja, quando se diz algo, movido por sentimento de raiva talvez,quando se queria dizer o contrário: "Suma!" = "não vai embora";
3. Tencionar, pela prosódia, pode indicar a tensão de uma intenção paradoxal: querer que "suma" e fique, simultaneamente;
4. O "suma", na expressão "Em suma", devido à vírgula, revela uma intenção de resumir algo cuja expressão verbal foi equivocada, paradoxal
5. Note o sinal ortográfico ao final do título (:), um detalhe, mas posto para denotar algo como: "Resumindo, em resumo, em suma,"idiota",
por não ter decodificado a intenção não revelada da mulher que proferiu o imperativo "suma!" e
6.A separação silábica no verbo proferir ( "pro-ferir") é a voz do narrador onisciente, que conta a estorieta do desencontro verbal, acentuando o caráter de hostilidade que provoca o paradoxo verbal. Algo assim: falei "suma" pra ferí-lo, não pra que fosse embora...

A frase do Magritte está ao pé daquele quadro onde ele pinta exatamente "un pipe" (um cachimbo"). Ao fazê-lo, revelava que aquilo não era um cachimbo, mas uma tela, uma obra de arte...!

Quase um micro-tratado para "explicar" um MC de dez palavras. É fabuloso, já que não invalida a percepção de Fátima, de fulano nem de sicrano. Esta é a minha idéia básica: a brevidade contida em uma narrativa monofrásica de dez palavras(engessada nessa forma fixa, como limite!)explode em fragmentos infinitos; uma bomba "nuclear", para Roland Brathes, na fase mais estruturalista dele. O limite demandando uma abertura à pluralidade de sentidos, à polissemia. Um combate à preguiça (tal como Nietszche a concebia)via encurtamento do texto...
Obrigado e desculpe-me a "aulinha". É que estou aquecido e produzindo conhecimento de tipo acadêmico.

Valeu!

9:22 PM

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Marco, eu sei que a voz era feminina,(nem de longe eu chegaria a uma
conclusão beirando sua tese de doutorado)
Sei que implica muito mais detalhes que eu não saberia explicar como
micro narrativas;.Pra mim, é como se ela o tivesse tratando tal qual
um cachorrinho: TIPO: Deita, rola, se finge de morto, etc.. tudo mui-
to automático às suas vontades.e no meu entender, por isso a
resposta tb imperativa e ironica.
Sendo o microconto paradoxal,foi isso que entendi,embora ela quisesse
dizer isso mesmo, foi a maneira como ela o disse que muda toda a
situação.Mas lendo-o eu senti mesmo uma raiva gostosa,vontade de ter
feito isso com alguém, mas não ter tido esse arzinho de sutileza
quando precisei...
Entendi que foi para feri- lo e não para que fosse embora,só que
quer mais mandar embora do que isso?
XII!!! acho que não entendi nada ainda,agradeço sua aula, só vc
mesmo pra me fazer raciocinar! Por favor, quando tiver um tempo me
fala se em uma das frases eu dei uma dentro...

Abraço da sua amiga,com toda a minha admiração

Fátima

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Marco,
para cutucar um pouco também - e essa análise académica - me desculpe, adoro você - mas para mim é pura automasturabação. O que vale toda essa interpretação, se o texto não é bom e não libere sentimentos no leitor? Em Alemão tem uma palavra para isso - Kopfgeburt -, um parto, puramente cabeça.

Nunca esqueço uma tradução de um estudante de Filosofia no qual se encontraram duas citações de Hegel em Português eruditíssimo. Traduzi, e depois mandei-lo verificar junto ao original. Para o meu espanto absoluta, de um vómito intelectualíssimo de uns 10 palavras sobrou uma única, muito simples em Alemão!!!! Er o tradutor que tinha que "valorizar" a palavra tão simples do Hegel...... .

Os meus pouquíssimos excursos no mundo académico brasilieiro eram cheio de desencontros assim. Li muitos textos simplesmente em Inglês que é claro, assessível e vai direto ao ponto. Tem que ser uma herança moura/árabe de falar com tantas voltas e códigos. Sempre tenho em minha mente que também serve para se distanciar do povão, excluir o mesmo..... Bem da Casa Grande.

Te imagina a mim um coitada estrangeira que se aventura escrever em Português cheio, cheio, cheio de erros! Nunca conseguiria acertar nada! Mas para ser franco, também não me importa tanto com isso, tanto que continua adorar você - enfim, gosto de brigar.

Um grande abraço e sejam mais generosos, especialmente com os meus distorções da sua língua querida!

Susan

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Acho que não vem dos mouros, mas não entendi em que discordamos. Do
jargão acadêmico dentro da academia? Do"(...)Está provado que só é
possível filosofar em alemão"? O mais curioso é que eu desmontei a
coisa pelo estruturalismo francês! Mais bizarro ainda:a raiz desses
fragmentos a que, com um tratamento literário, referimos
por "micronarrativas", pois não passa de uma reação do romantismo
alemão do séc. XVIII (Schellegel e Novalis !)contra o racionalismo
verboso de quem? Do Kant!Pra ser um pouco mais tosco: defendo a tese de
que o microconto é um antídoto contra a preguiça e essa idéia da
preguiça humana (de ousar, de ser, de inventar) vem do Nietszche ao
elogiar Schopenhauer, seu "professor" (dele...). E Nietszche que se deu
tão bem lecionando na Suiça - Universidade da Basiléia - até que, com a
grana do auxílio-doença(uns 3 mil francos suíços)facultou-se-lhe (essa
mesóclise é toda sua, pra mostrar que eu também te adoro, viu!)o
privilégio de rodar o mundo, passear pela Itália, catar a Lou-Salomé,
etc. etc.Não é fácil convencer uma banca ( filósofos, psicanalista e
linguista)de que um MC de 10 palavrar suscita (provoca) um efeito.
Acho, agora sim, que é disso que você está falando: do efeito no leitor.
Convivo, há quase 30 anos, com termos como "angst" que, você sabe,
não é "anxiety"; com "wunch" que é bem diferente de "desire" e, o mais
cabeludo deles - "Vernainung". Como descrever algo que não está
incluído nem excluído do inconsciente? Pois não é que o Sigmund cunhou
uma palavra para essa condição! Algo como "foracluído", de uma precisão
impressionante. E não é pra se masturbar não; vira psicose,dói e faz
doer na nossa pele de palavras. Em nós, que somos constituídos de
palavras. Enfim, pra não chegar na banca do doutorado cantando o "Samba
do Arnesto" (cujo autor eu respeito como um autêntico intelectual- o
que traduz o sentimento dos "foracluídos" da linguagem culta, p.ex.)
acho que a gente está falando é de "efeito" no leitor, portanto
de...hetero-mastubação, só pra manter a pimenta da provocação. Aliás,
esse efeito ocorreu! Ou você acha que a Fátima não expressou isso ao
limite do riso?! É epifania, mana. É "nois na fita nas quebrada
acadêmica, mix de James Joyce com Racionais-MC, com o perdão do
trocadilho. Estava quieto no meu canto e me pegaram aquecido. E deu no
que deu mesmo: aulinha. Pertinência de um discurso ao objeto de estudo
sobre o qual se debruça. Debruça mas não cai, já que, no Brasil. 13 de
Maio é dia de comemoração da libertação dos escravos; e dia do meu
exame de qualificação na Unicamp(sorte; poderia ser na UNB, já
pensou?). Então é só sair pro abraço e da "servidão voluntária" em 20
de Agosto próximo, na defesa da tese. Quero você, seu marido, e toda a
elite do "TURMA3" na primeira fila. Servirei brioche a todas. Para
você, um especial café-com-leite & pão com manteiga, que você adora
porque me confidenciou em bom português. Quanto ao edital, ei-lo,na
seqüência desta postagem, pois, agora, publica-lo-ei. Vas bedeut ist,
cumpanhera?! Beijos e obrigado, que eu vou trabalhar

Carolina disse...

algumas considera�es:

acho que a quest�o 'traduzir ou deixar na l�ngua original' depende muito do (con)texto. sou favor�vel a traduzir sempre que poss�vel, mesmo que seja preciso escrever 20 palavras para se entender uma, visto que o leitor ter� uma maior capacidade de entendimento e de que adianta deixar em alem�o, ou russo, ou mandarim se o leitor n�o entende, a� sim � automasturba�o! por�m, h� casos em que a tradu�o fica torta e foge do que a palavra realmente significa, nesse caso, deixa na l�ngua original e p�e uma nota(zinha ou zona) de rodap�.

quanto � acad�mia, ela � importante, afinal, � in�til pr�tica sem teoria, no entanto... REP�DIO ao academicismo!!!! e falo isso com plena consci�ncia de que posso ser recha�ada (ou n�o) aqui, me tratando de uma pobre estudante de gradua�o. e viva o evolucionismo. (I�CATI! nem de brincadeira!!!!!)

um beijo da sua sobrinha-aprendiz de intelectual ;P hehe

int�!
=**

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

[ PARTE NÃO COPIADA DA CRÍTICA]

A seqüência em frangalhos apresenta palavras combinadas de modo inventivo, criativo e pessoal que conduz à epifania – revelação súbita – (depois do beijo, para se ferir, vingar, seria preciso ir embora, mas fica: daí, em suma, um idiota. Enxerga criticamente o seu interior e suas relações com o mundo exterior, momento este de um beco–sem-saída, provocando desequilíbrio ( Idiota! ) , o que leva a um belo momento de função poética da linguagem

Marco Antônio,
Desejo sucesso na apresentação de sua tese. Parabéns por ela e felicidades ( logo, DOUTOR, hein? )
Abraços,
mariluci

OBS: Vou colocar em Depoimentos, pois não caberá em recados.
{Vide Orkut do autor - seqüencia completa da análise da professora}
Profa Mariluci Lopes

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Em Suma, Idiota:



Tencionava pro-ferir: senta, fica, dá beijinho e não vai embora!



Os Mcs mostram que a arte literária é um retrato do nosso tempo , estando, portanto, em consonância com a velocidade do mundo moderno

Se, por um lado, a característica fundamental é a brevidade ( no caso, chega-se à radicalidade, 10 palavras ) , por outro, o Mc não perde sua estrutura narrativa : o enredo possui introdução, complicação - através de seis verbos de ação, revelando dinamismo , conflito – intenção de “ pro-ferir “ , desfecho cíclico, levando ao título conclusivo ( Em suma, Idiota ) . Há narrador–personagem, tempo ( revelado pela seqüência verbal), espaço implícito. Portanto, apesar da poupança verbal , o MC preserva as características estruturais da narrativa. E considera os objetivos com o leitor, cabendo a este o que está por trás das letras , o desvendamento do enigma.

O MC “ Em Suma: Idiota” contém frases fragmentadas ( sem conectivos ), intencionalmente assindéticas com o efeito de sentido da rapidez, levando a segmentos semelhantes aos flashes cinematográficos, poder-se-ia dizer MC telegrama ou MC torpedo celular ( ?). Apresenta-se, ainda, um certo humor misturado ao lirismo.



O MC apresenta as características do conto: ( antigo e moderno -> verificar no final )

· A existência do conflito que representa a alma do conto

· unidade de tempo dinâmico ( caracterizado pelo tempo verbal )

· devido à brevidade do assunto não há descrições pormenorizadas

· o autor escolhe uma ação principal onde concentra suas atenções e o final é coerente com a densidade dramática

· narrativa breve, iniciando-se perto do clímax e do desenlace final

as personagens :limita-se ao mínimo necessário ao conflito
· a brevidade da narrativa é adequada a uma época de tantas transformações nos modos de representar a realidade , como a atual.


Profa Mariluci Lopes
Crícita Literária
Cnchas-SP
Maio/2008