PROSÓDIAS

FACEBOOK

FESTINA LENTE PELO MUNDO

Map

BO ! (aramaico)

agosto 07, 2009

Cortesia da Portal Stalker-um dos quatro contos meus

Baseado de Assis

Escrevi esse conto para a Stalker, baseado no eixo narrativo de um outro, dos anos 60!Não dos anos sessenta do século passado, é claro;a concepção que norteia o Projeto Portal é plasmada na prospecção, no futuro.Refiro-me ao século retrasado!O título dele - "Segunda Vida" - alude a virtualidades como "Second Life", avatares, errepeges. Futuro. Nem Futuro do Pretérito; Futuro premonitório, no campo da narrativa, da fantasia ficcional. Esculpido a Machado. Machado de Assis.Avancei no tempo para alcançá-lo e cheguei a este, baseado em Assis, o brucho que se defuntava na ficção, e voltava pra contar. O que conto ficou assim:







“Tempo Virtual, Mate Real”




Logo que percebeu como tratavam aquele que o aguardava na recepção disparou a tomar providências. Trataram-no por Senhor e se isso não era um código de segurança, era sinal para acionar dispositivos adicionais de etiqueta, protocolos de natureza diplomática. O Senhor que o aguardava não abriria mão de suas prerrogativas, das armas e brasões que o precediam. Mesmo sabendo da farsa daquele cerimonial.
Apresentou-se cordialmente, sentaram-se. Notou que o Senhor evitava o confronto visual e mantinha certa rigidez nos gestos; que não se apartava de seu caixilho 9.0, atrelado ao pulso, por um cordão metálico incrustado de minúsculos ornamentos verdes. – “Relíquias do auspicioso clã, Senhor? bonita peça!” , gracejou para quebrar a formalidade. Mas o Senhor respondeu que não, que se tratava de material explosivo.
Configurava-se uma situação de risco, agora sim, mas não tinha como apartar-se do ilustre visitante para os expedientes cabíveis; um “com sua licença, volto num instante” soaria como um “vou chamar a segurança”. Enxadristas vibrariam com a perspicácia resoluta daquele mate real já anunciado. A saída exigia compostura e raciocínio antecipatório.Uma varredura seletiva em seu repertório de alternativas afins.
Havia, para ganhar tempo, um recurso muito eficiente quando se tratava de representantes de aristocracias e portadores de mutações genéticas que potencializavam a estima pessoal e a vaidade. –“Esses caixilhos 9.0, Senhor, um grande privilégio prevalecer-se de dispositivos tais que permitam inibir nossos sensores, esses, também de última geração, que detectam roteadores de tempo real. O valor dessa máquina!”.
Afastando as mãos como se contornasse o caixilho, expressão mais relaxada no rosto, Senhor mordeu a isca, não sem antes desferir uma ofensa de natureza institucional: - “Seus sensores têm a vulnerabilidade típica das instâncias censoras, aguçam nosso ímpeto de desafiar, de descobrir as falhas do sistema...” A expressão não era de riso; era um esgar malicioso de quem já conta com os louros. Vitória por mérito...
Cintilava nos olhos de ambos um indelével desejo de astúcia, de reconhecimento meritório de astúcia de um – o Senhor -, que demandava aplausos da platéia entusiasta que julgava ter no outro, e deste outro que exalava um devir de sobrevivência e instigava: -“Em nossas idades-Terra, Senhor, meninos é que somos nessas circunstâncias, ávidos por imaginar proezas dessas engenhocas, ardemos de contentes!”.
Senhor, abrindo o painel do caixilho, exultava: -“E já que explodiremos juntos, mal me contenho em excitar sua imaginação: imagina o recurso que usei para enganar seus sensores”.-“ Não alcanço!”. –“Uma singela máscara de interface na área do relógio.”, e abriu o código fonte, inclinando o corpo para o exato quadrante coberto por uma das câmeras de vigilância. O outro ergueu os braços, solerte; -“Desenvolvedor!”
Ao erguer os braços, porém, a câmera registrou o dedo indicador direito apontando para o alto e o esquerdo para o painel do caixilho que escancarava o hackerismo, agora, detectado e desfeito com recuso tão singelo quanto o concebido pelo desenvolvedor – uma intervenção no relógio do sistema e subsistemas coadjuvantes tornava virtual toda a sequência do tempo transcorrido desde a chegada do Senhor...
Quando, já no final daquela troca de amenidades tecnológicas, algo nefasto apontava para o imponderável da missão do Senhor, este, lacrando seu caixilho, retesou-se e proferiu, solene: -“ Hora do fim, colega!”-“Ora, ora, temos tempo, Senhor, uma câmera flagrou e desabilitou a contagem. Para todos os efeitos, não tivemos este encontro porque o Senhor não entrou aqui. Prefere seu chá com leite, seu avatar gosta?”

7 comentários:

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

gosto do que o Causo escreve. Dessa vez não foi muito diferente, embora tenha reclamações com relação a este conto. Algumas coisas ficaram sem explicação e muitos eventos pareciam ocorrer simplesmente porque tinham que ocorrer. Senti falta de emoção, não fui fisgado, não me provocou ansiedade pelo final.
Conto 3 – Ontem ferido (Maria Helena Bandeira)
Um conto belo, mas escrito para não ser entendido.
Conto 4 – Alguém que fui (Maria Helena Bandeira)
Idem anterior. Até pensei que tivesse alguma ligação, sei lá.
Conto 5, 6 e 7 – Kripton, Os quereres e Buraco no céu (Brontops)
Até agora os melhores contos dessa coletânea. Muito bem escritos e com miolo. Meus parabéns ao autor cuja alcunha me lembra o período jurássico ou remédio para os brônquios.
Conto 8 – Wharia avariada (Marco Antônio de Araújo Bueno)
Incompreensível.
Conto 9 – Nonsensal (Marco Antônio de Araújo Bueno)
Nonsensal é um título bastante adequado a um conto que nos brinda com absoluto nonsense. Me pergunto o que o autor tem na cabeça quando escreve coisas sem nenhuma compreensão possível (pelo menos para mim). Para que leitor ele os escreve? Para si mesmo? Na minha opinião, um escritor não é para si, é para os outros.
Conto 10 – Holograma (Marco Antônio de Araújo Bueno)
Esse conto dele é melhor, embora exagere nos ecos. Ufa…
Parece existir entre alguns autores o afã de produzir obras com “O”, usando para isso (no presente caso) a literatura de gênero (que não exige necessariamente um conteúdo linear, mas que seja ao menos inteligível).
O que acabam conseguindo é um tipo de literatura “loura burra”, que apresenta ótima aparência, mas nenhum conteúdo.
Recentemente tem havido uma salutar discussão iniciada por Nelson de Oliveira e alimentada por Roberto de Sousa Causo, onde se discute a distância entre a literatura mainstream e a de gênero, e como ambas podem interagir.
A literatura mainstream privilegia a forma, enquanto que a de gênero, o conteúdo. Querer escrever a de gênero desprezando o conteúdo vai acabar criando outro subgênero para se unir a tantos outros: a literatura bizarra, ou lobotomizada.
(Comentários de Tibor Motitz no blogue dele. Meu quarto conto não foi lido, ao que parece.Uma visada crítica mais expandida tomou-lhe o lugar. Ao que parece. Baixou uma loira burra e eu não estendi direito. Mas gostei, looira burra...)

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Este é o meu quarto conto na Satalker. Ao comentarista Tibor Motiriz (que não se coloca como "resenhista")passou batido. Eis os demais comentários dele aos meus outros três (no terceiro, o comentário é expandido para uma visada analítica mais "abrangente")e de alguns de meus colegas autores, acomeçar pelo de Roberto Causo (vide blogue do Tibor).
Loira burra, gostei!

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

De Roberto Causo, sobre os comentários do Tibor Moricz:
Oi, Marco. Desculpe a demora...

Acho que o Tibor Moricz fala sim, dos nossos contos. É preciso rolar mais para baixo ou mudar de página, mas está lá no blog dele.

A maior parte dos escritores e leitores de FC tem pouca formação em teoria e história literária. Impera o princípio do contar uma boa história ou o da originalidade do assunto. Você deve recochecer que seus contos exigem mais do leitor em termos de um conhecimento mais teórico.

Rodrigo Novaes de Almeida disse...

É, Marco, o que dizer sobre uma "não-resenha" de um não-resenhista" obscuro?!

Fica na paz, guerra é para os medíocres :-))))

Abraço grande.

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Pediram que eu comentasse os dez mandamentos do Horacio Quiroga, para um livro que acaba de sair, e meu comentário do décimo mandamento foi exatamente isso.

10. Ao escrever, não pensa em teus amigos nem na impressão que tua história causará. Conta como se teu relato não tivesse interesse senão para o pequeno mundo de teus personagens e como se tu fosses um deles, pois somente assim obtém-se a vida num conto.

Esse mandamento também dispensa comentário. A vida que o contista procura obter num conto é a poesia que irá comover e encantar o leitor. Mas o contista, ao escrever, não deve pensar muito em seu público cativo. Nem tentar repetir sempre os mesmos truques e os mesmos efeitos que esse público está acostumado a aplaudir. Ao escrever, o contista deve olhar para dentro da bolha ficcional, não para fora. Ele deve pensar quase exclusivamente nos personagens e nos conflitos que os animam, feitos de complexas equações verbais. O interior da bolha ficcional é uma estrutura geométrica complexa cujas propriedades, em geral, repetem-se em qualquer escala. Noutras palavras, o interior da bolha ficcional é um microuniverso coerente, que, como num fractal, reproduz sua estrutura geral em cada pormenor. Então, ao escrever, concentre-se o máximo possível nessa estrutura extremamente complexa e tenta esquecer o mundo exterior. Não se preocupa com a impressão que tua hist� �ria causará, porque, depois de publicada, todo conto fatalmente encontra seu leitor ideal. Leitor esse que está, muitas vezes, onde o contista nem imaginava que ele pudesse existir.

Do Nelson de Oliveira, a propósito de concepções do tipo "para quem o escritor é", função da literatura e outros obscurantismos levantadospelo Tibor Moricz.

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

"É o do esquema tático. Atenção para a composição muito pouco casual dos parágrafos, em números de linhas. No fantástico Holograma, 4/4/4/4/4/8/4/4/4/4/4; ajuda-nos a subir a montanha e depois tomba-nos de lá, carinhosamente. As frases são curtas, rápidas, tomam da poesia certo paralelismo, metrirritmando a prosa. Também assim são Tempo virtual, mate real e Nonsensal. Wharia avariada, cativante já no título, é tripartido: I, II, III. Atos-corte, fissuras no espaço-tempo, com costura precisa, enxuta."
Danil Serrano, em resenha publicada no www.postoqueposto.blogspot.com em
02/dezembro/2009

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

"É o do esquema tático. Atenção para a composição muito pouco casual dos parágrafos, em números de linhas. No fantástico Holograma, 4/4/4/4/4/8/4/4/4/4/4; ajuda-nos a subir a montanha e depois tomba-nos de lá, carinhosamente. As frases são curtas, rápidas, tomam da poesia certo paralelismo, metrirritmando a prosa. Também assim são Tempo virtual, mate real e Nonsensal. Wharia avariada, cativante já no título, é tripartido: I, II, III. Atos-corte, fissuras no espaço-tempo, com costura precisa, enxuta."
Danil Serrano, em resenha publicada no www.postoqueposto.blogspot.com em
02/dezembro/2009