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dezembro 28, 2006

"Butaão & Lullismo"_crônica Janeiro/2007

“Butão & Lullismo”

Por Marco Antônio de Araújo Bueno

Pensava no Butão, no Reino do Butão a sete mil metros de altitude, lá nos Himalaias do oriente, entre a China e a Índia, sem mar algum. Você pensou num montão de homofonias, é razoável. Inda mais assim, aproximado de um “ismo” tão recorrente presidindo correntes de idéias, associações de pensamentos e atitudes, essas coisas todas. Mas o “butão” aqui não é de se apertar como num controle remoto e implodir o eixo da Economia, tal como se imaginava com a “bomba”, nos tempos da guerra fria.
Mas vamos indo com calma, uma calma quase tibetana para lembrar que houve um mestre de capela, um compositor, nos tempos de Luis XIV e sua corte e as danças instrumentais de então, até porque, em nossa macroeconomia, não se dançou conforme a música, tenha sido qual for no tempo recente. O nome dele – Lully –, seus seguidores – “lullistas”. Eis o que torna razoável alguma confusão, esta que já vai parando por aqui. Mesmo tendo em conta que as danças que Lully “inventou” para a abertura de suas óperas, aí sim, eram tão populares como as cantigas de rua do século dezoito.
E daí? Daí que, durante toda a Idade Média e até mais adiante, já no período renascentista, as danças eram a única forma de música instrumental e os instrumentistas que acompanhavam os dançarinos eram “classificados” como músicos do povo, meio “desincluídos” da categoria de “grandes” músicos. Então, se era em inclusão que pensava (e, convenhamos, só pode haver inclusão se houver inclusão na Economia, com toda essa conversinha de “respeito às diferenças, etc.), então voltamos ao Butão e pronto.
No Reino do Dragão, como é chamado, instituiu-se, a exemplo do “IDH” (Índice de Desenvolvimento Humano) enquanto baliza da saúde econômica de um povo, pois lá se inventou o “Índice de Felicidade”. E nem por isso deixaram de incorporar a ele o carcomido “PIB” e outros indicadores econômicos. Soa como música, pois não?
Agora veja você, aliás, esqueça o “veja” – ouça você no que deu toda a movimentação fervorosa dos alunos e seguidores de Lully: deu nesse gênero a que se chama “suíte para orquestra”, o mais livre e mais aberto da música barroca; coisa sofisticada, difundida pelos franceses em toda a Europa até chegar à matemática musical de um J.S.Bach! À harmoniosa depuração da alegria dos sentidos e não há neurocientista honesto que o possa refutar.
Claro que as pessoas do século dezoito não dançavam ao som das suítes instrumentais, mas o gênero suíte para orquestra conservou a medieval função recreativa da música de dança e, curioso: de tão utilizada como música de fundo em suntuosos banquetes, passa a se chamar, na Alemanha, Tafelmusik que quer dizer, saberia você? Quer dizer exatamente “música de mesa”.
Mais do que há dez ou quinze anos atrás, se nos impõe agora uma pergunta; mais que isso, - um questionamento - aquele que se tornou, a nós, bem pertinente, e justo pela via musical: - “Você tem fome de que?”.
A propósito, a ceia no seio da sua família...Que ceia?
E isso de “inclusão”...Que seio?
E “que família?”, perguntaria. Não.
Não perguntaria
Que algo de Butão “seja aqui”, antes que aquele deserto enorme alcance a China. Se é que você acompanhou o raciocínio sobre o “lullismo” e não andou comendo algum “L” por distração...Ou pelo hábito, anti-lullista, de “ligar o botão do f...-se” para tudo que não lhe invada a soleira da porta ou lhe ameace de morrer de sede.

4 comentários:

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

"Apertar o botão do foda-se" foi justamente o que não tive vontade de fazer ao ver que, covardemente, o autor do texto resolveu esconder, talvez por medo - ou por medo mesmo - a tal expressão. Que seria isso? Uma auto-censura? Já não nos basta a censura? Gosto do que escreve, mas tomo a liberdade de fazer essa crítica, ainda que não lhe conheça. Censurar a expressão foi, no mínimo, burrice, e, no máximo... acho melhor me auto-censurar.

Daniel S.

7:38 PM

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Prez. leitor (e escritor, suponho, com base em -"Já não nos basta a censura?"),agradeço-lhe a contundência com que levanta uma questão bastante séria para mim. Tendo a concordar com você; permitir adulterarem meu texto com prejuizo de sonoridade e espirituosidade (com a duplicidade fônica da palavra "botão"), fora o fato de que a coesão textual também sofre em contraste com o eufemismo do sinal gráfico. Foi, no entanto, uma questão de convenção editorial, de respeito às normas da publicação da revista que veicula minha coluna- "Cotidiano". Não me satisfaz fazer concessões ao que seja de natureza corporativa. E fico nesse dilema: compromisso com a literariedade do meu texto X compromisso com o cãnone editorial.
Ainda há tempo de mudar isso. Fiz consulta a meus pares e sua indignação veio em boa hora. Queria ler textos seus, para oferecer-lhe os meus pitacos também. Penso ser esta a essência dialógica imediata que os blogs permitem. Aliás, você tem blogs? Publica na grande imprensa. Já passou por algo semelhante?
Abraço

4:04 PM

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

Felipe Vagli F Souza (teu amigo da livraria Nobel Cambuí) disse...
Marco

Como simples leitor que sou, leigo nesse campo da escrita, posso dizer, apenas, que achei fantástica a crônica. Com o perdão do clichê, este texto é um daqueles em que dizemos: "Gostaria eu de tê-lo escrito".
As ironias (poderia chamar ironia?) presentes nas alusões ao Lullysmo e outras ao Butão são demais!

Um grande abraço,
Felipe

Marco Antônio de Araújo Bueno disse...

contemplo com aplausos este seu belo escrito, muito bom mesmo, convido você para vir ler " ABÍBLIA DAS BRUXAS DE BRUGAN em minha simples escrivaninha, muita luzzzzzzzzzzzzzzzz sempre abraços

BRIONE CAPRI
Enviado por BRIONE CAPRI em 25/05/2007 13:18
para o texto: "Butão & Lullismo" (T500196)
{Do site "Recanto das Letras"}